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3-4- Queres aprender máis? Portugués
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3-4- Queres aprender máis? Portugués

 

Letreiro dunha rúa portuguesa

Reflexiona

Sabías que o portugués é unha das linguas máis faladas do mundo e que a podemos escoitar de xeito natural en catro continentes?

A Lusofonía (La Voz de Galicia, 4, xuño, 2008): países nos que se fala portugués e nº de falantes (por millóns):

Brasil: 190,01 (millóns de habitantes), Macau: 0,45; Timor Oriental: 1,08; Sao Tomé e Príncipe: 0,19; Cabo Verde: 0,42; Portugal: 10,64; Angola: sem datos; Mozambique: 20,90.

A priori, cal cres que é o teu coñecemento do portugués, bo, regular, malo ou nulo?

Descúbreo!

Actividade 1

Le estes chistes, verás que son moi comúns e intercambiábeis con distintos pobos.

1-Por que o português nao molha a cabeça quando toma banho?

- Porque ele usa xampu para cabelo seco.

2-Como o português faz para caçar um coelho?

- Escóndese atrás da árvore e imita o som de uma cenoura.

3-O que fazem 17 portugueses na frente do cinema?

- Esperam mais um português, pois o filme é proibido para menos de 18.

4-Um clube pegou fogo em Portugal. Morreron todos carbonizados. Sabe por quê?

- Nao deixaram os bombeiros entrarem porque eles nao eram sócios.

Entendíchelos?

Si? Pois semella que o teu coñecemento do portugués non é nulo...as gravacións son de persoas portuguesas e brasileiras, achas algunha diferenza?

Podedes probar, por compañeiros, a contárvolos uns aos outros... antes, escoitade ben os fonemas característicos do portugués.

Actividade 2

¿Quen dixo vergoña? Cantade en grupo a seguinte cantiga de Toquinho:

(Se non sabedes a música, podedes substituíla por outra). 

Era uma casa muito engrasada

Nao tinha teito

Nao tinha nada

Ninguem podia entrar nela nao

Porque na casa nao tinha chao

Ninguem podia durmir na rede

Porque na casa nao tem parede

Ninguem podia fazer pipi

Porque penico nao tinha alí.

Mais era feita com muito esmero

Na rua dos bobos número zero.

Fuches quen de cantar e enténdela? Logo o teu coñecemento non é malo.

Actividade 3

O seguinte conto pertence ao libro Contos da montaña, do escritor portugués Miguel Torga. Observarás que a súa comprensión é moi doada; ao finalizares a lectura, anota as palabras que che pareza que non existan en galego.

JESUS

Comiam todos o caldo, recolhidos e calados, quando o menino disse:

- Sei um ninho!

A Mae levantou para ele os olhos negros, a interrogar. O Pai, esse, perdido no alheamento costumado, nem ouviu. Mas o pequeno, ou para responder a Mae, ou para acordar o Pai, repetiu:

- Sei um ninho!

O velho ergueu finalmente as pálpebras pesadas, e ficou atento, também.

A criança, entao, um tudo-nada excitada, contou. Contou que a tarde, na altura em que regressava a casa com a ovelha, vira sair um pintassilgo de dentro dum grande cedro. E tanto olhara, tanto afiara os olhos para a espessura da rama, que descobrira o manhuço negro, lá no alto, numa galha.

A Mae bebia as palavras do filho, a beijálo todo com a luz da alma. O Pai regressou ao caldo.

Mas o menino continuou. Disse que entao prendera a cordeira a uma gesta e trepara pela árvore acima.

De novo o Pai levantou as pálpebras cansadas, e ficou tal e qual a Mae, inquieto, com a respiraçao suspensa, a ouvir.

E o pequeno ia subindo. O cedro era enorme, muito grosso e muito alto. E o corpito, colado a ele, trepava devagar, metade de cada vez. Fimava primeiro os braços; e só entao as pernas avançavam até onde podiam. Aí paravam, fincadas na casca rIJa.

A subida levou tempo. Foi até preciso descansar tres vezes pelo caminho, nos tocos duros dos ramos. Por fim, o resto teve de ser a pulso, porque eram já só vergonteas as pernadas da ponta.

Transidos, nem o Pai nem a Mae diziam nada. Deixavam, apavorados, mudos, que o pequeno chegasse ao cimo, a crista, e pusesse os olhos inocentes no ovo pintado; O ninho tinha só um ovo.

Aqui, o menino fez parar o coraçao dos pais. Inteiramente esquecido da altura a que estava, procedera como se viver ali, perto do céu, fosse viver na terra, sem precisao dos braços cautelosos agarrados a nada. E ambos viram num relance o pequeno rolar, cair do alto, da ponta do cedro, no chao duro e mortal de Nazaré.

Mas a criança, apesar de mostrar, sem querer, que de todo se alheara do abismo sobre que pairava, nao caiu. Acontecera outra coisa. Depois de pegar no ovo, de contente, dera-lhe um beijo. E, ao simpJes calor da sua boca, a casca estalara ao meio e nascera lá de dentro um pintassilgo depenadinho.

E o menino contava esta maravilha com a sua inocencia costumada, como quando repetia a história de José do Egipto, que ouvira ler a um vizinho.

Por fim, pos amorosamente o. passarinho entre a penugem da cama, e desceu. E agora, um nada comprometido, mas cheio da sua felicidade, sabia um ninho.

A ceia acabou num silencio carregado. Só depois, a volta do lume quente do cepo de oliveira em brasido, é que os pais disseram um ao outro algumas palavras enigmáticas, que o pequeno nao entendeu. Mas para que entender palavras assim? Queria era guardar dentro de si a imagem daquele passarinho depenado e pequenino. Isso, e ao mesmo tempo olbar cheio de deslumbra mento os dedos da Mae, que, alvos de neve, fiavam linho.

E tanto se encheu da imagem do pintasilgo, tanto olhou a roca, o fuso, e aqueles dedos destros e maravilhosos, que dai a pouco deixou cair a cabeça tonta de sono no regaço virgem da Mae.

Encontraches algunha palabra que non sexa galega? cantas? Comproba no dicionario galego que efectivamente non figuren. Cantas che quedan agora?

Xa ves, o teu coñecemento do portugués non está nada mal.

Queres mellorar?

Observa algumas diferenzas portugués-galego:

Percebes? (vbo perceber): em portugués é usado máis co significado de  “entendes?”.

Acho que: penso que, paréceme que…, creo que…

Se calhar: se cadra

Presunto: é o xamón en portugués; o frango é o polo.

Pequeno almoço: almorzo.

Fica em, ficar, "meu pai fica na casa".

Numeral 2: dois: dous carros /r/ (o "r" non é múltiple).

Pelo no canto "polo": "pelo dereito a consumir local"

En portugués "preto" = negro/ "perto"=cerca (Observa que no galego: preto=perto=cerca)

Luta, muto (en galego: loita, moito)

Polízia (en galego policía)

En portugués "esquisito" quere dicir "raro"; chaman "vaso" ao que nosoutros "floreiro" e piden un "copo" de viño ou auga.

Mellora a túa pronuncia

Escoita cançao portuguesa, por exemplo, o símbolo da "Revoluçao dos cravos" e habitúa o teu ouvido á lingua portuguesa:

"Gràndola, vila morena", do Zeca Afonso.https://www.youtube.com/watch?v=gaLWqy4e7ls

Ou, "Ai se eu te pego", do Michel Teló. https://www.youtube.com/watch?v=hcm55lU9knw

Atrévete con este fermoso discurso de Saramago

De como a Personagem Foi Mestre e o Autor Seu Aprendiz

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza". Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprias filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.

(Fragmento do discurso de aceptación do Premio Nóbel de Literatura en Estocolmo o 7 de outubro de 1998)

Fragmento do documental, "José Saramago: Levantado do Chão". Na seguinte dirección http://ensina.rtp.pt/artigo/jose-saramago-documentario-levantado-do-chao/